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História da Academia

A Academia das Ciências de Lisboa foi fundada a 24 de dezembro de 1779, com beneplácito da rainha D. Maria I. Os grandes responsáveis e mentores pela concretização deste projeto foram, sobretudo, o 2.º Duque de Lafões, D. João Carlos de Bragança, primeiro Presidente, e o abade José Corrêa da Serra, primeiro Secretário-geral, que, conhecedores das sociedades congéneres europeias conceberam para Portugal uma instituição semelhante.

A primeira sessão realizou-se a 16 de janeiro de 1780. Entre várias propostas, o lema da instituição passou a ser a sentença de Fedro:

   Nisi utile est quod facimus stulta est gloria.
   Se não for útil o que fizermos a glória será vã.

Denominada Academia Real das Sciencias de Lisboa, assumiu a designação atual em 1910. É uma instituição de âmbito nacional que, desde sempre, mantém relações com congéneres de outros países.

Veio ao encontro de necessidades de um país onde, em pleno Iluminismo, se sentia crescente necessidade de desenvolver o conhecimento das Ciências, Humanidades, Tecnologia e Economia. Ao período de progresso científico e técnico nos séculos XV e XVI, mantido depois, por exemplo no Colégio de Santo Antão, parece ter havido uma quebra, sem embargo de atuações progressivas a partir de fins do século XVII, com a criação de academias particulares. Progresso que prosseguiu no reinado de D. João V, por exemplo, ao instituir a Academia da História e um “Gabinete” de História Natural, organizado por um naturalista, Merveilleux, recrutado com a anuência do rei de França. Porém, a destruição do Paço da Ribeira apagou os seus vestígios. Nada sabemos da sua possível riqueza.

Reinando D. José, houve reformas progressivas, nem sempre concretizadas por falta de pessoal qualificado, não inteiramente colmatada por contratações de estrangeiros. Não será estranha a dureza do regime pombalino, que tantos fez emigrar. Pesa, entre outras, a Reforma da Universidade, o que criou uma situação nova, contudo, nem sempre satisfatória, pelo que muitos lentes se transferiram para a Capital na primeira oportunidade.

Progresso notório ocorreu após a ‘viradeira’. Enfim, muitos puderam regressar, com outras luzes. Havia que criar uma Instituição vocacionada para o desenvolvimento, sem as limitações da extinta Academia da História. Houve quem (Vandelli) preconizasse que a Instituição a criar se restringisse às Ciências e aplicações, opinião que não foi seguida.

A Academia ajudaria a promover a Ciência e o Ensino, para o Progresso e prosperidade do País. Veio a adotar divisa que bem traduz o seu espírito, Nisi utile est quod facimus stulta est gloria, enquanto os fundadores acentuaram que “… esta Academia das Ciências [é] consagrada à glória e felicidade pública, para adiantamento da Instrução Nacional, perfeição das Ciências e das Artes e aumento da Indústria Popular”.

Compunha-se das Classes de Ciências Naturais, Ciências Exatas e Belas-Letras, com Sócios Efetivos e Correspondentes, além de Correspondentes estrangeiros. Como na congénere francesa, eram encorajados a participar – recebendo um jeton de prata pela participação nas sessões, prática a que orçamentos restritos puseram fim. Após a instalação no antigo Convento de Jesus, da Ordem Terceira, alocado em 1834, uma Reforma dos Estatutos (1851) reorganizou a Academia nas Classes de Ciências e de Letras, que se mantêm.

A Academia das Ciências de Lisboa tem desempenhado papel ímpar no que concerne às Ciências Exatas, Naturais e Humanas, Tecnologias e Economia. As Memórias que tem vindo a editar espelham a História das Ciências e das Letras em Portugal, bem como a evolução do estado científico e cultural do país.

Pela atividade, tradição e espólio, tem desempenhado papel relevante na História das Ciências e do Ensino Superior, ministrado na Academia, ou sob sua administração, desde o século XVIII. Exemplo disso, a Aula Maynense, criada pelo Padre Joseph Mayne (1723-†1792) no Convento de Jesus. Procurava-se evidenciar as maravilhas da Criação, lutando contra posições doutrinárias adversas – não através de censura ou outra repressão, mas recorrendo, outrossim, a um ensino de qualidade. Assim, o Ensino Superior reaparecia em Lisboa após o feroz autoritarismo pombalino, superando as pressões a favor do monopólio da Universidade de Coimbra.

Tornava-se necessário um Gabinete para apoio das Aulas, dotado de “curiozidades” que Mayne obteve, até de longínquas paragens da América à África, Índia, China e Rússia, com auxílios, entre os quais os da Família Real e da Real Academia das Sciencias. Estava a constituir-se um Museu, apoiado na rica Biblioteca conventual que, integrada na da Academia, contém, entre tantíssimos outros, exemplares de obras científicas das mais relevantes – além de preciosos incunábulos e da sumptuosa Chronica Geral de Hespanha, mandada copiar por D. Duarte ca. de 1420.

Ensinaram-se Física, Química e Ciências Naturais. Realizaram-se Congressos, Colóquios e outros eventos com grande projeção internacional. Foram numerosas as Comunicações apresentadas e as edições de obras, muitas de grande vulto, científicas e outras, como a Portugaliae Monumenta Historica. Muitos foram os Sócios notáveis, como Alexandre Herculano. Por outro lado, são de sublinhar atuações criativas de que resultaram e foram viabilizadas outras instituições, graças a propostas, apoio e até cedência por empréstimo de espaços no seu edifício:

– a Instituição Vaccínica, antecedendo uma Direção-geral de Saúde;

– o Curso Superior de Letras, convertido em 1911 na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, instalado inicialmente em espaços esvaziados pelo envio para a Escola Politécnica (futura Faculdade de Ciências) de espólio zoológico e mineralógico;

– o embrião do que veio a ser o Museu Nacional de Arqueologia, animado por José Leite de Vasconcellos;

– a 1.ª (1848) e a 2.ª (1857) Commissão Geológica, que evoluiu para os Serviços Geológicos de Portugal e organismos derivados, alojados graças à alienação em hasta pública a favor do Estado da rica pinacoteca conventual integrada na Academia, libertando o 2.º andar;

– a Biblioteca Popular, depois transferida para a Câmara Municipal de Lisboa.

A Academia tem sofrido graves inconvenientes pela eternização de ocupações de espaços seus em exclusivo benefício de interesses alheios. Atravessou períodos brilhantes a par de crises, a maior parte das quais a política nefasta de Teófilo Braga logo em fins de 1910: despeitadíssimo por não ter sido reeleito para a vice-presidência, tentou-a destruir em favor de outra por ele criada, eliminando a Tipografia – apesar dos seus relevantes serviços –, transferindo pessoal, cortando verbas, dificultando a administração, etc.

Porém, não entrou em letargia. Prosseguiu intensa atividade, com apresentação de Comunicações; Investigação; Intercâmbio internacional; difusão de conhecimentos através de edições e da Internet; ações do Instituto de Altos Estudos, com realce para estudos académicos para seniores; exposições temporárias, enquanto procuramos reunir condições para expor o rico património museológico; bem como prestação de serviços.

Com altos e baixos a refletirem as condições do País e apesar de graves carências de recursos, de restauro e manutenção do Património, a Academia mantém-se como um fórum de progresso e debate onde sempre coexistiram ideias e posições muito diversas. Voltando ao princípio, recordemos, segundo a nossa divisa, que é vã a glória se for inútil o que fizermos.