Num mundo de massificação da tecnologia, onde os teclados de computador são considerados por muitos o novo e mais prático método de escrita, dedicamos algumas linhas da primeira newsletter do ano à arte da escrita à mão, comemorada a 23 de janeiro.
ntre o excecional património bibliográfico da Academia das Ciências de Lisboa são centenas os manuscritos que poderiam ser evocados. Pela riqueza da mão caligráfica, damos a conhecer dois exemplares que se destacam entre o vasto conjunto documental.
primeiro trata-se da conhecida Crónica Geral de Espanha cujo elevado valor literário, histórico, cultural e artístico faz com que tenha sido alvo de interesse por parte de vários autores, das numerosas áreas do saber.
autoridade desta crónica medieval portuguesa não se esgota apenas no relato do papel de Portugal na reconquista cristã. Desde a abertura do prólogo até à última página somos surpreendidos com a singularidade de todo o programa decorativo, onde habitam figuras humanas, fantásticas, animais, objetos ou os motivos vegetalistas.
s grandes iniciais historiadas que adornam as margens e introduzem os parágrafos do manuscrito (e do presente texto) são o reflexo da colorida imaginação do(s) seu(s) iluminista(s).
Cronica de Hespanha, S.l., 1344 [cópia não datada]. Cota: Azul 2007.
Fotografia: Paulo Bastos © Todos os Direitos Reservados – Academia das Ciências de Lisboa
Por ser a instituição com o maior número de manuscritos árabes em território nacional - que provêm das intensas missões de evangelização e missionação dos religiosos no próximo oriente - selecionámos um documento do religioso fr. João de Sousa (1735-1812), também conhecido por Yuhannā ad-Dimasqī.
Académico correspondente da Academia Real das Ciências de Lisboa, dedicou parte significativa da sua vida ao estudo, ensino e tradução da sua língua materna, o árabe, quer falado como escrito. Enquanto intérprete régio e docente, foi autor de uma vasta obra, impressa e manuscrita, de gramáticas, léxicos e manuais de ensino.
[Manual arabo-português], 1778, s.l, f. 24/25, Fr. João de Sousa (1735-1812). Cota: Vermelho 871.
sta vertente pedagógica de fr. João de Sousa é notória no prólogo de um dos seus manuscritos onomásticos, datado de 1778, onde escreve: “Para suprir de algum modo huma cousa quasi impossível me propuz a escrever este papel (…)”. Trata-se de um texto bilingue, em árabe e português, onde o arabista traduziu termos, orações, diálogos comuns ou categorias de palavras tão variadas como profissões,cores, meses do ano, animais ou os números.
onservam-se ainda outros vestígios da importância da escrita para os religiosos do antigo Convento da Nossa Senhora de Jesus.
ordem franciscana, não raras vezes associada a uma menor projeção textual comparativamente com outras ordens e congregações religiosas, não ignorou o potencial comunicativo da palava escrita.
Detalhes das mãos dos religiosos da Ordem Terceira de São Francisco. ACL-PIN-0015; ACL-PIN-0022; ACL-PIN-0031.
Fotografias: Paulo Bastos © Todos os Direitos Reservados – Academia das Ciências de Lisboa.
Nas mãos dos diversos franciscanos retratados - como fr. José Mayne (1723-1792), fr. Francisco de Jesus Maria Sarmento (1713-1790) ou fr. Manuel dos Anjos (1695-1653), respetivamente - identificamos os instrumentos de escrita predominantes nos séculos XVII e XVIII, a pena e o tinteiro.