Dadas as estreitas relações da Academia das Ciências com o Brasil desde a sua fundação em 1779, surgiu naturalmente o interesse pela criação de uma sala dedicada ao país-irmão e a espólio, precioso, que constitui parte fundamental do Património académico e do Museu Maynense em particular. Em destaque, figuram o retrato de D. Pedro de Bragança na qualidade de Imperador do Brasil; o busto do José Bonifácio de Andrada e Silva, longamente Secretário da Academia e depois o “Patriarca” da Independência; e a excelsa figura que os antecedeu, o Padre António Vieira.
Um conjunto de peças documenta sumariamente espólio recolhido na mais importante expedição portuguesa, a de Alexandre Rodrigues Ferreira (1783-1792). Destacam-se máscaras confeccionadas por elementos de tribos extintas (i.e. Jurupixuna) além de outros objectos etnológicos: ceptro, colares, peças para aspirar o halucinogéneo “paricá”, cerâmica, vasos decorados confeccionados a partir de frutos, armas, etc.
Ainda relacionados com a mesma Missão, estão expostos restos de animais e vegetais. Lembramos colares de garras de onça-pintada (jaguar), de sucuri (serpente gigante), e de dentes de macaco; cobras altamente venenosas (cobra coral) em frascos, utilizadas em infusão como medicamento; exemplares naturalizados de tatu, cotia, gambá (sarigueia); e peixes montados a seco (em “herbário”) que mereceram a atenção de Étienne Geoffroy Saint-Hilaire (Maio de 1808). Estes peixes escaparam às suas “requisições” em proveito do Muséum national d’Histoire naturelle de Paris, que recebeu a maior e melhor parte da colecção. Além de tudo o mais, merece especial destaque o papagaio amarelo do Norte do Brasil enviado para o Museu da Ajuda, também “requisitado”. Retornou de Paris por aí ter sido oferecido a D. Pedro V. A Casa Real viria pouco depois a oferecê-lo à Academia das Ciências, integrado na colecção ornitológica do malogrado Rei.
Destaca-se também um nódulo com peixe fóssil do Ceará, dos primeiros de que há notícia, enviado ca. de 1800 pelo Naturalista Joaõ da Sylva Feijoo, Sócio da Academia.
Merece especial referência uma preciosa xiloteca, assinada pelo Mestre dos marceneiros portugueses, José Aniceto Rapozo. Sabe-se da encomenda (ca. de 1805) de um móvel deste tipo pelo Príncipe Regente, que o guardava no seu quarto. O exemplar em causa encontrava-se onde ainda está, no edifício do Convento de Jesus, da Ordem Terceira (franciscanos), alocado em 1834 à Academia. Está decerto relacionado com o Museu que apoiava a Aula Maynense, criada pelo Padre José Mayne (†1792) – o que, afinal, representou uma séria tentativa de implantação de Ensino Superior na Lisboa de então. A xiloteca foi referida por Saint-Hilaire no Relatório ao seu Ministro da tutela, em Paris. Contudo, não a “requisitou”, alegadamente em atenção aos frades. Contém magnífico conjunto de amostras de madeiras nobres (em estudo), na grande maioria do Brasil, muitas quase extintas pela intensa exploração a que foram sujeitas.
Enfim, entre os demais elementos contam-se: a Ordem do Cruzeiro do Sul concedida à Academia; medalhas entre as quais as de D. João VI do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves comemorativas da criação da fundição de canhões no Rio de Janeiro, um dos símbolos do desenvolvimento industrial de então; bem como edições brasileiras de qualidade realizadas em colaboração da Academia.