Resumo: Esforçou-se Vasco Graça-Moura por tentar, mais de uma vez, um inventário das influências de que seria credor. Figura nessa lista o poeta latino Horácio, de quem, aliás, ousou uma tradução fragmentária. O Horácio da poesia de amor, ou melhor, do desamor – o mesmo, afinal, que atravessa a poesia de Ricardo Reis e tantos outros poetas portugueses. Ou por disso não ter consciência ou por qualquer outro motivo que nos escapa, não constam dessa lista os demais poetas de amor latinos, como, por exemplo, Propércio, Ovídio, Catulo, para citar os que lhe são mais recorrentes. Mas eles são uma presença latente e regular na poesia de Graça-Moura – na sua sensualidade, no seu erotismo, na sua ambiguidade, no carácter velado do seu dizer, que tanto esconde como descobre. E, sobretudo, na profunda ironia que marca regularmente toda essa sua poética. Porque em Graça-Moura é sempre incerta e sinuosa a linha entre o amor e o desamor, o mesmo é dizer, é sempre desafiante a ironia da celebração do amor.
O objectivo desta comunicação é, em síntese breve, cruzar esses dois aspectos da obra poética de Vasco Graça-Moura: a ironia, ora fina e elegante, ora despudorada, no canto do amor e, também, a filiação desse canto nos poetas de amor latinos.