Revisitando Bretton Woods — Paulo Pitta e Cunha
Resumo: Na conferência monetária e financeira realizada em Julho de 1944 no sítio de Bretton Woods (New Hampshire), que deu origem ao Fundo Monetário Internacional, processou-se o debate entre os planos britânico, da autoria de Keynes, e norte-americano, de Dexter White, avultando o arrojo das concepções do primeiro e, em particular, a proposta de criação de uma moeda internacional, denominada “bancor”. A proposta de Keynes veio a ser suplantada pela de White, que envolvia a criação de um “pool” de ouro e divisas destinado à concessão de crédito aos países participantes com dificuldades de balança de pagamentos.
Surgiria, anos mais tarde, a figura dos “direitos de saque especiais” (DSE), como instrumento de criação racional de liquidez, alheia às áleas das formas tradicionais de reservas.
O regime de Bretton Woods contrasta com a situação do “não sistema”, que depois veio a prevalecer. Os DES não corresponderam à ambição que lhes estava subjacente; a relevância do ouro no contexto das reservas monetárias sofreu marcado declínio; e o dólar manteve o seu papel determinante, muito substancialmente à frente de outras moedas de reserva.
Desaparecido o regime de paridades ajustáveis, o FMI perdeu influência em relação às situações cambiais, concentrando a sua acção no controlo das políticas económicas dos Estados-membros, por via da condicionalidade ínsita nas suas operações de financiamento.
A cooperação multilateral à escala do globo ainda foi reforçada com a instituição da Organização Mundial do Comércio; mas, mais recentemente, mesmo esta instituição terá entrado em declínio, posta em causa a multilateralização que remonta a Bretton Woods.
Não se perspectiva, assim, um Bretton Woods II, antes vai prevalecendo um contexto de incerteza e imprevisibilidade, que contrasta com a visão tranquila do sistema organizado nascido na conferência de 1944. Bem se justifica, três quartos de século decorridos, a rememoração do evento.
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Homenagem a José Pina Martins por Académicos, discípulos e outros admiradores.