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1. Comunicação do académico Senhor João Luís Lisboa, intitulada Anacronismos - a distância como problema.
Através de alguns exemplos recentes, e outros mais remotos, coloca-se o problema das variações de sentido que as distâncias temporais implicam (por exemplo, o conceito de misoginia, de clássico, de relação com os livros ou de globalização). Procura-se ultrapassar distinções rígidas e concepções estáticas de conceitos, incluindo o de anacronismo, tendo em conta a pluralidade de factores que interferem na construção dos significados de um texto, de um conceito, de um processo, de uma explicação. Não se defende a impossibilidade de usar no estudo do passado, como instrumentos analíticos, conceitos que não existiam nesse passado. Mas assume-se a diferença entre erro e perspectiva, bem como a possibilidade de ter por errada uma explicação, ou a tradução de um conceito, quando se apresentam elementos que demonstrem a sua não adequação.
2. Comunicação da académica Senhora D. Sylvie Deswarte-Rosa, intitulada Um retrato de Nicolau Clenardo em Évora por António de Holanda em 1537?
António de Holanda (Países Baixos, circa 1480 – Lisboa, 1557), quando esteve a morar em Évora por alturas da estadia da corte de D. João III nessa cidade entre1533 e 1537, após o terremoto de Lisboa em 1531, introduziu um retrato de eclesiástico com boina e trajando de vermelho escarlate nas margens de pergaminho virgem do Breviário chamado da Condessa de Bretiandos (ACL, Ms. Azul 1813, fl.18v)
Depois de uma rápida apresentação do Breviário, que pertenceu, segundo pensamos, ao Infante D. Duarte (1515-1540), irmão do rei D. João III, oferta na ocasião do seu casamento com com D. Isabel, filha do Duque D. Jaime I, duque de Bragança, em Abril 1537, examinamos o retrato iluminada.
Quem será, pois a figura de eclesiástico grisalho e barbudo vestido em hábito escarlate, que António de Holanda imortalizou, o único retrato presente no Breviário?
Chegamos a conslusão seguinte. Na pequena miniatura iluminada do Breviário, António de Holanda, também oriundo dos Países-Baixos, como Clenardo, retratou o humanista, seu compatriota : vêmo-lo aqui tomado ao vivo, tirado pelo natural. É ele, sem dúvida, com a sua inseparável boina com tapa orelhas, de que surge já coberto em dois outros retratos gravados, um deles tomado na Flandres, sendo mais jovem.
Apesar da idade, da barba e dos bigodes, reconhecemos Clenardo com os traços de juventude, adivinhando-se no queixo saliente sob a barba um traço de caracterização física que o grande retratista que era António de Holanda quis justamente destacar.