Carlos de Oliveira
Evocação no Centenário do seu nascimento (1921-2021)
Salão Nobre da Academia das Ciências de Lisboa, e por Zoom (acesso aqui; Meeting ID: 891 2200 7610 // Password: 123456)
Intervenções dos académicos:
Comunicação da académica Senhora D. Fernanda Cravidão - Gândara, espaço vivido: onde as paisagens literárias se encontram, tocam, renovam.
A Gândara tem cerca de 500 km2 e cabe em duas mãos cheias de livros. “Um palmo de estante” como escreveu Mário Dionísio. A Gândara é universo referencial de Carlos Oliveira. A terra e o homem, as paisagens e as personagens, os lugares e os conflitos constituem o cenário ficcional, onde a gândara se transfigura sem nunca perder a sua essência. Carlos Oliveira percorre, caminha, observa, reflecte, como nenhum outro autor o território gandarês, sobretudo entre os anos 40 e 60 do século XX. São 500km2 onde retrata muito do que era Portugal de então. Os ciclos da terra, as migrações, a desintegração da pequena economia rural acompanhados, também, pela lenta agonia da pequena burguesia. Também por isso a Gandara é a personagem principal no universo literário de Carlos Oliveira.
Comunicação do académico Senhor Carlos Reis – Carlos de Oliveira: representações da paisagem e do povoamento.
A conformação das personagens na ficção de Carlos de Oliveira obedece a procedimentos de figuração que tendem a superar a doxa neorrealista que marcou a geração do escritor. Em processo de deriva para além dessa doxa, a personagem oliveiriana é, por vezes, imprecisa, difusa e, ainda que socialmente significativa, muito impressiva nos planos psicológico e simbólico. A dialética da palavra e do silêncio da personagem, eventualmente em articulação com a questão do nome próprio, remete para dispositivos de figuração que confirmam a originalidade da ficção de Carlos de Oliveira, no contexto da literatura portuguesa do século XX.
Oradores convidados:
Abílio Hernandez (Fac. Letras. Univ. Coimbra), Escrever com a palavra e escrever com a luz: Uma Abelha na chuva, de Fernando Lopes
Uma produção acidentada;
Para além de uma simples adaptação: uma confissão pasmosa, umas minas de Salomão e um amor de perdição;
A Gândara: espaço de clausura, ruína e memória;
O elogio da elipse e da montagem: a inscrição do cinema novo português no moderno cinema europeu.
Osvaldo Manuel Silvestre (Fac. Letras. Univ. Coimbra), O que é o Povo em Carlos Oliveira?
A pergunta que dá título a esta comunicação provém, em bom rigor, do século XIX e, mais aproximadamente, daquele contexto cultural e civilizacional a que se deu o nome de Romantismo. Mas o Neorrealismo, na sua aceção mais lata, não é pensável sem essa interrogação, que convoca toda uma etnografia e antropologia, bem como uma mitificação das fontes populares. Na obra de Carlos de Oliveira o povo é sempre reconhecível, embora de forma diferente quando transitamos do começo da obra para a fase da maturidade e, depois, para a fase tardia, em que se torna menos um ator do que uma memória ou espectro. Tentarei abordar a questão, situando-a desde a sua filiação no romantismo político inicial até aos debates finais em torno do Direito natural, que sugerem a hipótese de uma expropriação fundadora: há História porque há roubo, há Povo enquanto funcionar um dever de memória.
Encerramento pelo Presidente da Classe de Letras da Academia das Ciências de Lisboa, Professor Doutor Jorge Barbosa Gaspar.