INÍCIO  >  AGENDA  >  SESSãO DA CLASSE DE LETRAS
Sessão da Classe de Letras
   11 de Novembro - 15 horas

1. Comunicação do académico Senhor Mário Vieira de Carvalho, intitulada A música como "arte autónoma" na Estética de Hegel: uma leitura do texto no seu contexto.

Na comunicação que apresentei anteriormente, assinalando os 250 anos do nascimento de Beethoven e Hegel, foram abordados os trabalhos de Theodor W. Adorno que põem em evidência a correlação entre a linguagem musical de Beethoven e a dialética hegeliana. Ficou, porém, em aberto uma questão: a da enigmática ausência de qualquer referência a Beethoven nos escritos de Hegel e, desde logo, nas suas Lições de Estética.* Tal é o objeto da presente comunicação.

Partindo do debate que se tem desenrolado a este respeito, proponho-me revisitar, nas Lições de Estética, alguns lugares seletos sobre “música” e, em especial, sobre o conceito de música como “arte autónoma”, e tentar compreendê-los no quadro do sistema hegeliano, sem deixar de levar também em consideração o contexto histórico-cultural, nomeadamente aspetos da vida musical alemã da época que se me afiguram relevantes para a discussão.

O confronto com E. T. A. Hoffmann (1776-1822) no que respeita às noções de “arte romântica” e “música autónoma” contribui para clarificar a posição de Hegel, que faz o veemente elogio do modelo de comunicação “bipolar”, de “alma” para “alma”, entre músico e ouvinte, tantos nos géneros vocais como nos instrumentais, mas, ao mesmo tempo, vê na música instrumental autónoma uma limitação: a de suscitar “o mero interesse pela composição puramente musical e a sua perícia... coisa que importa menos ao interesse artístico humano em geral”.

Conclui-se que a “articulação imediata da interioridade” que Hegel elege como paradigma da comunicação musical o leva a enfatizar nesta o plano da fruição do desempenho (do cantor ou do instrumentista singulares), e a relegar para segundo plano a fruição da “obra musical” interpretada, o que pode explicar, em parte, a omissão de qualquer referência a Beethoven.

*G. W. F. Hegel, Ästhetik, vs. de 1842 de H. G. Hotho, ed. F. Bassenge, 2 vols., Berlim e Weimar, Aufbau-Verlag, 1984. 

2. Comunicação do académico Senhor Guilherme d' Oliveira Martins, intitulada O diálogo entre Antero de Quental e Oliveira Martins e a visão crítica sobre Portugal.

Teve lugar em Moreira da Maia, em fevereiro de 1890, um importante encontro entre Antero de Quental e Oliveira Martins, em casa de Luís de Magalhães, relacionado com um dos acontecimentos mais dramáticos da história portuguesa no final do século XIX – o ultimato inglês, sobre a questão do “Mapa Cor-de-Rosa”. Antero presidia à Liga Patriótica do Norte, criada para responder à humilhação de que Portugal foi vítima por parte do Governo britânico, ao ser compelido a abandonar a pretensão ao território entre Angola e Moçambique. O ultimato foi recebido a 11 de janeiro de 1890, sob a forma de telegrama, e suscitou uma imediata onda de protesto, perante uma atitude que contrariava o que o governo português vinha sustentando (desde 1886) na sequência da Conferência de Berlim de 1884-85, sobre a tese da ocupação efetiva de um território. Logo a 10 de fevereiro, constituída a Liga, presidida por Antero de Quental, esta enviara ao Presidente do Governo António de Serpa Pimental uma carta, em que era solicitada uma reação enérgica à provocação britânica. “Há horas solenes, em que a máxima, e ainda a mais brutal franqueza, é um dever de bom cidadão. Uma dessas horas é esta, e nós cumprimos um sagrado dever expondo sem véus à consideração de V. Exª todos os perigos que há em se demorar por mais tempo o exemplar castigo daquele criminoso”. A linguagem era dura e quem assinava a declaração tinha autoridade moral, política e intelectual para a fazer. Sob a presidência prestigiada do poeta de Sonetos, a Liga reunia, entre outros: Rodrigues de Freitas, António Vieira de Castro, Bento Carqueja, José Pereira de Sampaio (Bruno), Basílio Teles, Luís de Magalhães, António Oliveira Monteiro, Ricardo Jorge, conde de Resende, António Nicolau de Almeida, João Pais Pinto (abade de S. Nicolau), Maximiano Lemos e Joaquim de Vasconcelos. 

Era preciso, porém, ver em que medida importava salvaguardar os interesses portugueses, para além da reação epidérmica… 

*

Acesso Zoom:

Link de acesso

Meeting ID: 851 4645 1336

Password: 123456